domingo, 28 de setembro de 2008

A Crônica de Hoje

Fomos ao cinema ver o filme Ensaio sobre a Cegueira do Fernando Meirelles, adaptação da obra de José Saramago. Eu me sentia estimulado desde a reportagem em que Meirelles estava no cinema ao lado de Saramago em lágrimas, imediatamente após a projeção do filme em versão definitiva, depois de Cannes. A vontade de ver dois autores em linguagens irmãs, a escrita e a cinematográfica, ambas dependentes da visão, tratando da cegueira, essa endemia que nos ameaça a todos, talvez tenha sido mais forte que tudo, uma forma de resistir ao que não tem vacina, a estupidez.

A diferença da endemia de estupidez que permanece em grau mais ou menos constante afetando a sociedade, o ensaio do livro e do filme é uma epidemia de cegueira, em que quase todos perdem a visão subitamente, sem nenhum sinal prévio e passam a "ver" branco leitoso, diferente da amaurose em que a vista escure totalmente. A barbárie toma conta, como nas diversas situações em que a humanidade se mete sem necessidade de uma epidemia de cegueira. Então, parece que o método da redução ao absurdo, de levar quase todos a não ver, cegos absolutos , é para mostrar que precisamos ver as coisas que estão claras à nossa vista. Ao fim é um libelo à vida, na esperança de que a humanidade, talvez, se enxergue um dia!